Este blog destina-se ao compartilhamento de reflexões e informações científicas sobre Doenças Neurodegenerativas e Síndromes. Pretendendo prestar algum apoio aos portadores dessas doenças com informações e relatos reais, assim como estar com vocês sempre que possível e juntos interagirmos para ter uma melhor qualidade de vida. "Unidos Seremos Mais Fortes "
terça-feira, 17 de junho de 2014
Síndrome de pós-pólio é uma segunda batalha para quem teve a doença
Algumas pessoas que tiveram poliomielite na infância podem enfrentar dores e complicações na vida adulta. Como a pólio foi erradicada, há uma grande desinformação sobre a doença, principalmente no meio médico
Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Luciane Evans
Publicação:04/05/2014 16:57Atualização:04/05/2014 18:04
“Só descobri o que tenho por meio da internet”, revolta-se a funcionária pública Maria Eunice Macedo, de 49 anos. Infectada pelo vírus da poliomielite na infância, o que lhe trouxe como sequelas uma perna atrofiada e problemas na coluna, ela, recentemente, começou a sentir dores insuportáveis pelo corpo e diz estar perdendo aos poucos os movimentos do braço esquerdo. Procurou vários especialistas, que não lhe deram um diagnóstico exato. Por sites e conversas com outros portadores da doença, Eunice chegou a conclusão de que sofre da síndrome da pós-poliomielite (SPP). Considerada a segunda batalha de alguns que foram infectados pela pólio, essa nova condição vem carregada de complicações graves aos pacientes e não é conhecida por muitos médicos, o que dificulta ainda mais o tratamento. “A medicina não se preparou para o nosso futuro”, lamenta a funcionária pública.
'A medicina não se preparou para nosso futuro', lamenta Maria Eunice (Marcos Vieira/EMDAPress)
"A medicina não se preparou para nosso futuro", lamenta Maria Eunice
E ela tem razão. “O estado, a medicina e a sociedade foram omissos em relação a esses pacientes da pólio. Fomos negligentes”, critica o neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Acary Souza Bulle Oliveira. Membro fundador da Associação Brasileira da Síndrome do Pós -Pólio, o especialista diz que, com a chegada da vacina no país em 1989 e a erradicação da doença, atualmente os cursos de medicina não falam para os futuros profissionais sobre a poliomielite, ainda que haja muitos pacientes sobreviventes. Segundo Oliveira, há aqueles que tiveram comprometimento dos membros, geralmente inferiores, e carregam sequelas desde leves até graves. Desses, 70% vão enfrentar a segunda batalha e, geralmente, são mulheres que sofreram a poliomielite aos 3 anos de idade.
Mas essas pessoas envelheceram, algumas foram submetidas a cirurgias e todas tiveram que se adaptar às limitações que o vírus trouxe. “São pessoas lutadoras, que foram para o mercado de trabalho e levaram a vida, mesmo com suas dificuldades de locomoção”, comenta Acary. Mas, agora, depois de 30, 40 anos da doença original, para alguns, conforme diz o especialista, os corredores começaram a ficar maiores e as escadas parecem mais altas. “Essa fraqueza mais acentuada não vem sozinha. Ela traz dores, fadiga, transtornos de sono. Essa pessoa se vê mais limitada, e aí há o risco de desenvolver uma depressão e a ansiedade”, acrescenta o neurologista. São esses sintomas que fazem parte da chamada síndrome da pós-poliomielite. “Ninguém sabe, ninguém fala. Para aliviar minha dor, tomo analgésico todos os dias. Você procura um ortopedista e ele fala que houve uma lesão no tendão e pronto”, reclama Maria Eunice.
Definida como uma desordem neurológica, ela produz um conjunto de manifestações clínicas. “Mas não quer dizer que todos que tiveram a poliomielite a terão. Há cinco décadas, as pessoas com poliomielite morriam mais cedo. Hoje em dia, com os avanços da medicina, elas estão vivendo mais, assim como a população em geral. Então, quando essas pessoas chegam aos 40 anos, a síndrome aparece”, afirma a neurologista e presidente da Sociedade Mineira de Neurologia, Rosamaria Peixoto Guimarães.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Síndrome de pós-pólio é uma segunda batalha para quem teve a doença
Algumas pessoas que tiveram poliomielite na infância podem enfrentar dores e complicações na vida adulta. Como a pólio foi erradicada, há uma grande desinformação sobre a doença, principalmente no meio médico
Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Luciane Evans
Publicação:04/05/2014 16:57Atualização:04/05/2014 18:04
“Só descobri o que tenho por meio da internet”, revolta-se a funcionária pública Maria Eunice Macedo, de 49 anos. Infectada pelo vírus da poliomielite na infância, o que lhe trouxe como sequelas uma perna atrofiada e problemas na coluna, ela, recentemente, começou a sentir dores insuportáveis pelo corpo e diz estar perdendo aos poucos os movimentos do braço esquerdo. Procurou vários especialistas, que não lhe deram um diagnóstico exato. Por sites e conversas com outros portadores da doença, Eunice chegou a conclusão de que sofre da síndrome da pós-poliomielite (SPP). Considerada a segunda batalha de alguns que foram infectados pela pólio, essa nova condição vem carregada de complicações graves aos pacientes e não é conhecida por muitos médicos, o que dificulta ainda mais o tratamento. “A medicina não se preparou para o nosso futuro”, lamenta a funcionária pública.
'A medicina não se preparou para nosso futuro', lamenta Maria Eunice (Marcos Vieira/EMDAPress)
"A medicina não se preparou para nosso futuro", lamenta Maria Eunice
E ela tem razão. “O estado, a medicina e a sociedade foram omissos em relação a esses pacientes da pólio. Fomos negligentes”, critica o neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Acary Souza Bulle Oliveira. Membro fundador da Associação Brasileira da Síndrome do Pós -Pólio, o especialista diz que, com a chegada da vacina no país em 1989 e a erradicação da doença, atualmente os cursos de medicina não falam para os futuros profissionais sobre a poliomielite, ainda que haja muitos pacientes sobreviventes. Segundo Oliveira, há aqueles que tiveram comprometimento dos membros, geralmente inferiores, e carregam sequelas desde leves até graves. Desses, 70% vão enfrentar a segunda batalha e, geralmente, são mulheres que sofreram a poliomielite aos 3 anos de idade.
Mas essas pessoas envelheceram, algumas foram submetidas a cirurgias e todas tiveram que se adaptar às limitações que o vírus trouxe. “São pessoas lutadoras, que foram para o mercado de trabalho e levaram a vida, mesmo com suas dificuldades de locomoção”, comenta Acary. Mas, agora, depois de 30, 40 anos da doença original, para alguns, conforme diz o especialista, os corredores começaram a ficar maiores e as escadas parecem mais altas. “Essa fraqueza mais acentuada não vem sozinha. Ela traz dores, fadiga, transtornos de sono. Essa pessoa se vê mais limitada, e aí há o risco de desenvolver uma depressão e a ansiedade”, acrescenta o neurologista. São esses sintomas que fazem parte da chamada síndrome da pós-poliomielite. “Ninguém sabe, ninguém fala. Para aliviar minha dor, tomo analgésico todos os dias. Você procura um ortopedista e ele fala que houve uma lesão no tendão e pronto”, reclama Maria Eunice.
Definida como uma desordem neurológica, ela produz um conjunto de manifestações clínicas. “Mas não quer dizer que todos que tiveram a poliomielite a terão. Há cinco décadas, as pessoas com poliomielite morriam mais cedo. Hoje em dia, com os avanços da medicina, elas estão vivendo mais, assim como a população em geral. Então, quando essas pessoas chegam aos 40 anos, a síndrome aparece”, afirma a neurologista e presidente da Sociedade Mineira de Neurologia, Rosamaria Peixoto Guimarães.